quinta-feira, novembro 09, 2006

Dorovan, Capitulo 4: A Queda, Parte I

- “Agora, eu me pergunto, onde estavam todas essas mulheres antes? Passei um dia inteiro nessa cidade e não tinha visto uma sequer, e agora aparecem às centenas. Sabe me responder, amigo?” - Disse Dorovan, apontando para multidão e olhando para Faern.

- “Possivelmente,” - Respondeu, sibilante, o homem-serpente, dando de ombros - “bem, você não deve ter ido nos lugares certos. A fortaleza tem muitos distritos, a maioria é de uso militar, mas há alguns usados por comerciantes e para a diversão dos soldados, tem também o pessoal que veio de fora da cidade, das fazendas, por isso as mulheres.”

- “Bem, eu vou compensar o tempo perdido mais tarde...” - Dorovan falou, olhando para algumas mulheres, e sendo correspondido no olhar na maioria das vezes.

- “Espero que tenha dinheiro o suficiente, amigo.” - Disse o soldado, sorrindo.

- “Como é?” - Era Dorovan, confuso.

- “Diversão dos soldados, lembra? A maioria são prostitutas.” - Respondeu o homem-serpente. Dorovan riu.

- “Amigo, pagar é para aqueles sem talento para deixar uma mulher feliz. Homens como eu nunca precisam despender recursos com esse tipo de coisa!” - Dorovan agora tinha o punho fechado na altura do peito, com um sorriso besta na cara. Vendo a cena, Faern começou a rir sem parar.

Mais a frente, Hoaram estava paralisado. Sophie lhe abraçava e falava sobre como sentiu sua falta e sobre voltar para casa. Ele apenas olhava para ela, confuso.

- “O que você está fazendo aqui?” - Ele finalmente disse. A voz, ainda ampliada por magia, fez Sophie levar as mãos aos ouvidos. Ela então fez alguns gestos e murmurou alguma coisa, e Hoaram sentiu a magia sumir.

- “Eu? O que você está fazendo aqui, senhor capitão da guarda de Kil'mer?” - Disse Sophie.

- “Eu...” - Começou Hoaram, mas então parou, desviando o olhar para a multidão. - “Sophie, eu preciso terminar aqui, essas pessoas...”

- “Ah! Já entendi, só um segundo...” - E então ela tocou o peito de Hoaram e murmurou algumas palavras, ele sentiu a magia voltar a fluir em sua garganta. Então, se virou para a multidão e pediu silêncio uma, duas vezes.

- “Fiquem quietos!” - Hoaram gritou, e, então, após o som ensurdecedor, a multidão finalmente se calou - “Muito bem. Quero que escutem com atenção mais uma vez! Quando sairmos do outro lado da passagem, vocês devem ir na maior velocidade possível até o rio Fend, os barcos estarão a espera de todos. Depois de dez quilômetros, uma parte da guarda irá se separar da retirada, quando isso acontecer, não quero ouvir qualquer reclamação ou lamuria, nenhum atraso será tolerado, espero que todos tenham entendido isso bem. Agora, eu quero todos em ordem para entrar na passagem! Vamos!” - Ele então fez um gesto para Sophie, que desfez a magia novamente.

Alguns soldados abriram um grande portão no centro da praça, revelando uma escadaria que descia até uma passagem subterrânea, escavada muito tempo atrás para momentos como esses, em que a fortaleza fosse sitiada. A multidão, ordenada pelos soldados, descia.

Dorovan, que desistiu de tentar saber porque Faern estava rindo, foi até Sophie e Hoaram. Faern veio logo atrás, ainda segurando o riso.

- “Ora, ora,” - Disse Dorovan, sorrindo - “então este é o homem! Amigo, você está me devendo dez dias de cerveja e mulher.” - então, olhou para Sophie e novamente para Hoaram - “E também bolas novas, as minhas ficaram um pouco danificadas depois de tanto tempo acompanhando a nossa querida e bela Sophie.”

Olhando para Dorovan com uma expressão confusa, Hoaram tentava entender o que acontecia.

- “Quem diabos é você?” - Perguntou.

Dorovan já ia responder, quando se sentiu estranho, se lembrava vagamente de já ter presenciado uma cena parecida.

- “Dejavu...” - Disse, sem perceber e então continuou, antes que alguém pudesse dizer alguma coisa - “Ora, ora, mas que indelicadeza extrema de minha parte, imagine só, deixe que eu me apresente, sou Dorovan, espadachim por opção, herói por acidente e mulherengo por vocação! Honrado em conhecer alguém de tão alta estima para a bela Soph... Ugh!”

- “Se você tocou nela, eu te mato.” - Era Hoaram. Enquanto Dorovan se distraia em fazer uma pose para se apresentar, Hoaram se aproximou e jogou a mão rapidamente por entre as pernas de Dorovan, agora ele segurava os “adoráveis” com força, o espadachim gemia e fazia caretas cômicas.

terça-feira, novembro 07, 2006

Dorovan, Capitulo 3: Encontro

Dorovan já estava acostumado com o calor, Laughton, sua terra natal, era a mais tropical de toda a Ilha Nobre, mas, mesmo assim, Ax'aria parecia insuportavelmente quante naquele dia. Ele abanava-se com o chapéu e observava Sophie, que sofria com suas roupas pesadas. O calor não é muito comum em Brando, na verdade, dos três reinos, ele era aquele com temperaturas mais amenas, geralmente com muita chuva. Mas hoje, em Ax'aria, mesmo o dia nublado não parecia fazer a temperatura diminuir.

Apesar disto, a cidade-fortaleza fervilhava em atividade, todos pareciam ocupados com algo, as forjas estavam mais ativas do que nunca, nos quartéis, os soldados limpavam armas e armaduras, ordens era dadas e obedecidas. Algo acontecia.

Confuso com tanta agitação, Dorovan demorou quase uma hora até finalmente encontrar o capitão com quem falara na noite anterior.

- “Ora, nobre capitão Isgard! Até que enfim lhe encontrei, que dificuldade para encontrar um rosto conhecido nesta confusão!” - Disse Dorovan. Isgard, um homem-lobo já com seus quarenta verões, trajava sua armadura de batalha e tinha um machado de guerra preso nas costas. Ele olhou para Dorovan e fez um gesto para que ele esperasse um pouco, depois, espediu algumas ordens e virou-se para o espadachim.

- “Não tenho muito tempo para lhe explicar, então, por favor, apenas me siga por enquanto, eu irei lhe contar o que precisa saber.” - Isgard falava e seguia andando com passos firmes, ganhando o pátio, Dorovan e Sophie apertaram o passo para segui-lo. Ele deu mais algumas ordens para os soldados, virou-se e passou por entre os dois, seguindo na direção oposta, até uma torre de vigilia.

- “Subam.” - Disse Isgard, já subindo ele mesmo. Os dois foram logo depois. Chegando lá em cima, a primeira coisa que Dorovan viu foi o céu azul e sem nuvens, no oeste, e então virou-se e viu as Montanhas de Marfim e abaixo. Era incrível. Nas montanhas e no terreno abaixo, milhares de colunas de fumaça se estendiam até perto da cidade, obscurecendo o céu de Ax'aria.

- “É um ataque,” - Isgard começou, enquanto observava o horizonte horripilante a sua frente, as mãos evitando que o sol de lhe turvar a visão - “o maior que já vi. Nós vamos precisar de ajuda da capital. Há milhares por lá... Diabos! Com tantas fogueiras de acampamento, deve haver dezenas de milhares deles!”

- “Deles quem?” - Perguntou Dorovan, Sophie estava assustada demais para falar qualquer coisa.

- “Provavelmente orcs, ainda não sabemos, nenhum dos batedores retornou. Amigo, já terminei o que tinha para fazer aqui, se me permite, meus soldados precisam de mim.” - Isgard fez um meneio de cabeça e já se dirigia para a escada enquanto falava.

- “Certamente, capitão, certamente. Muito obrigada, por tudo.” - Dorovan devolveu o aceno, um pouco perdido. Então, olhou para Sophie. Ela o encarou, sem saber o que dizer.

- “Bem, minha querida, como diria o poeta:” - Dorovan fez uma pausa e então falou de modo teatral, enquanto apontava com o braço estendido para o grande acampamento - “Mas que grande bosta!”

- “Tenho que achar meu irmão.” - Ela disse, finalmente, com uma das mãos sobre a fronte e os olhos perdidos na visão sombria das montanhas.

- “Eu diria mais: temos que sair daqui. E rápido. Vou perguntar ao capitão sobre isso.” - Era Dorovan, já começando a descer as escadas.

- “Meu irmão...” - Disse Sophie, quase chorando.

- “Eu sei. Sobre isso também, agora temos de ir. Estamos ficando sem tempo.” - Era Dorovan, esperando na entrada da escada.

- “Se está achando que eu vou ser burra de deixar olhar debaixo da minha saia mais uma vez, pode esquecer. Vai subindo e me deixando descer primeiro, seu tarado.” - Disse Solhie, sorrindo.

- “Ora, mas como você me julga mal. Ficaria ofendido, se não tivesse tido a oportunidade de ver um sorriso em tão bela face. Por favor, minha bela Sophie, desça.” - Dorovan agora estava inclinado para a frente, com uma das mãos sobre o peito e a outra apontando para a escada ao seu lado. Sophie não respondeu e desceu, ele riu e a seguiu.

Encontraram Isgard no pátio novamente conversando com outros oficiais. Sophie ia falar algo, mas o espadachim a deteve, ficaram esperando por algum tempo até que os oficiais terminassem a conversa, e então Dorovan abordou o capitão.

- “Mil perdões por importuna-lo mais uma vez, meu estimado amigo, mas seria possível mais um minuto de sua atenção?” - Disse Dorovan, humilde. Isgard apenas deu um aceno de cabeça, e então Dorovan continuou - “Bem, sei que é muita petulância de nossa parte, mas gostaria de pedir duas coisas, uma saída da cidade, se possível, e alguma ajuda para encontrar o irmão de minha adoravél companheira. Acha que pode nos ajudar, nobre Isgard?”

- “Qual o nome do seu irmão, mulher?” - Era Isgard, olhando diretamente para Sophie.

- “Hoaram. Hoaram Isenshard.” - Sophie falou, decidida. O orgulho do nome da família era visível. Isgard riu. Sophie olhou para ele, sem entender.

- “Parece que vocês tem sorte. Faern, venha cá!” - Um dos soldados, que afiava seu grande machado duplo, veio rapidamente até eles. Isgard continuou - “O tenente Isenshard é o responsável pela evacuação dos civis. Faern é um de seus comandados.” - ele então virou-se para o recém-chegado e expediu uma ordem - “Soldado, acompanhe estes civis até o seu oficial responsável.” - O soldado confirmou a ordem e olhou para Dorovan, fazendo um aceno de cabeça, que o espadachim devolveu em seguida.

- “Novamente, muito obrigada, capitão.” - Dorovan disse, Isgard, indo na direção oposta e sem se virar, apenas acenou.

Caminharam por algum tempo, até chegarem ao centro da cidade, onde centenas de pessoas, muitas mulheres, Dorovan notou, se amontoavam ouvindo as instruções de um oficial. Sophie correu por entre a multidão, gritando algo que se perdia contra a voz magicamente ampliada do oficial. Quando chegou perto do palco, a voz se calou, olhando atônito, para a mulher que vinha em sua direção. Ele tinha o rosto severo e a barba por fazer. Era Hoaram Isenshard.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Dorovan, Capitulo 2: Os Caídos de Ax'aria

- “Ora, mas veja só, nove dias em cima do lombo de um cavalo, sem cerveja, dormindo ao relento e enchendo de pancada todo tipo de coisa que entrava no caminho, por isso? Milhares de homens suados usando esses machados antiguados em uma fortaleza enorme, que cheira inteira a alguma coisa queimada. Além disso, estamos aqui já há duas horas e eu ainda não vi uma mulher. Diabos, se antes eu achava que os homens daqui fossem apenas sem jeito com mulheres, agora eu acho que o que eles tem mesmo é gosto por dar o rabo!”

Imediatamente, alguns homens olharam torto para Dorovan, que falava alto e sem preocupação, como se ninguém mais na cidade o pudesse ouvir, o que até poderia ser verdade, tamanho era o barulho que a cidade produzia. Milhares de martelos golpeavam o aço nas inúmeras forjas da cidade-fortaleza, e nos quartéis que pareciam se estender indefinidamente, homens elevavam suas vozes, uns discutindo planos de batalha, outros, antes de cada golpe de machado nos treinamentos. Os homens, num primeiro instante ofendidos, baixaram suas cabeças e seguiram seu caminho, porque eles sabiam que mereciam aquilo, era parte de sua punição. Assim é o Exército de Acha, a primeira linha de defesa de Brando contra as investidas dos monstros das selvagens Montanhas de Marfim, um exército de pecadores esperando por sua punição. Aqueles que, pelos motivos mais diversos, cometiam pecados além do que sua consciência podia suportar, vinham para cá, onde, defendendo com suas vidas o ideal de nação que era Brando, conquistavam o perdão para suas almas atormentadas. Ax'aria nasceu para ser um inferno onde se expiam os pecados.

- “Cale a boca, ou chuto os seus tão queridos 'adoráveis' mais uma vez, quer ver?” - Era Sophie, irritada.

- “Não, por favor, ainda não me recuperei dos últimos vinte que me deste, que o Indomável me devore! Por falar nisso, adorável Sophie, o que você tem contra os meus adoráveis? Vamos, confesse, é ciúme deles serem usufruídos por outras pessoas, certo? Você quer exclusividade, não é? Hein? Confesse!” - A essa altura, Dorovan já falava tão alto que a maioria das pessoas que passavam pela rua se viravam para apreciarem o show. Desde que haviam entrado na cidade, Sophie já havia acertado Dorovan quase uma dúzia de vezes, e a cada minuto que se passava sem que alguma coisa interessante acontecesse, mais ele focava sua atenção em irritar Sophie. O laughtoniano precisava de agitação, de qualquer tipo!

Exausta, Sophie coloca-se com as costas contra a parede de um pequeno edifício, aproveitando a sombra para amenizar o calor. Então, caiu. Sophie era uma mulher forte, mas o calor e o ar abafado da cidade cobraram seu tributo depois de horas caminhando no sol escaldante do verão.

Em outro lugar, já pela noite alta. Sophie dorme tranquilamente, coberta pela capa de Dorovan, na palha do estábulo. Sem muito dinheiro, com Sophie desmaiada e sem nenhuma estalagem por perto, Dorovan preferiu deixa-la descansar ali, no estábulo de mais um quartel. Não foi difícil convencer o capitão responsável a deixa-los pernoitar ali, ele até havia oferecido um espaço nos dormitórios. Mas, diante de tantos olhares cobiçosos entre os soldados, e este era o Exército de Acha, Dorovan lembrou-se, um exército de pecadores, o fizeram preferir o estábulo.

Sophie remexeu-se na palha, resmungou alguma coisa, rolou para o lado e então abriu os olhos, levantando-se em seguida, olhou para Dorovan.

- “O que houve?” - Perguntou, sonolenta.

- “Você desmaiou, achei que fosse uma insolação ou algo do tipo, mas parece que era só cansaço, você tem dormido bem?” - Falou Dorovan, recostado na parede, sem desviar o olhar da entrada do estábulo, para Sophie.

- “Com você por perto, tenho de dormir com pelo menos um olho aberto...” - Disse ela, enquanto se espreguiçava com a graça de uma raposa de verdade.

- “...Mil perdões pela intromissão, adorável Sophie, mas... Quem seria Hoaram?” - Desta vez, ele olhou para ela quando falou, curioso.

- “Ele esteve aqui, você falou com ele?” - Ela disse, surpresa, levantando-se.

- “Não, nada disso. Você resmungou qualquer coisa sobre ele enquanto dormia. Agora, corrija-me se estiver errado, mas imagino que seja por ele que você se enfiou nessa jornada até aqui, não é, adorável Sophie?” - Disse, zombeteiro.

Sophie foi até Dorovan, colocando-o de pé com um puxão na camisa. Em seguida, usou o joelho para acertar, mais uma vez, os adoráveis de Dorovan.

- “Por quê...?” - Dorovan gaguejou, perplexo.

- “Por que,” - disse Sophie - “para ter me ouvido, você chegou perto demais enquando eu dormia. Já se esqueceu do nosso acordo de antes?”

- “Sabe, eu sempre achei que olhar para cima em lugares fechados dava uma vista meio deprimente, mas até que a vista daqui é boa...” - Era Dorovan, que, caído no chão, via por baixo das vestes de Sophie.

- “Ugh! Eu vou te matar seu...!” - Disse Sophie, antes de uma pequena chuva de chutes...

Após algum tempo, Sophie estava novamente sobre o monte de palha, tentando dormir. Dorovan resmungava qualquer coisa sobre seus novos machucados. Então, ela sentou-se e falou com Dorovan.

- “Você está certo.”

- “Estou? Então você realmente só acerta os meus adoráveis porque não quer que outras se aproveitem dele? Minha querida, se for esse o caso, eu lamento, mas meus deveres de herói devem vir antes de meus sentimentos por você, eu devo trazer a felicidade para o maior número de mulheres possíveis, e certamente ficaria difícil fazer isso se eu prometesse da-la a apenas uma.”

- “Não é disto que eu estou falando, seu imbecil!” - indignou-se Sophie.

- “Não? Então, do que seria?” - Perguntou, curioso.

- “Sobre Hoaram. Eu vim para cá para encontra-lo.” Era Sophie, com a voz baixa e melancólica.

- “He, seu julgamento é mesmo engraçado. Tantos homens no mundo, e você escolhe justamente alguém dessa cidade maldita. Por acaso nunca te contaram que Ax'aria é uma cidade de pecadores?” - Disse Dorovan, sem perder tempo.

- “Ele é meu irmão. E você esqueceu de colocar o 'arrependidos' depois do 'pecadores', por favor.” - Disse Sophie, voltando a se deitar.

- “Desculpe.” - Era Dorovan, deitando-se e colocando o chapéu sobre a cabaça, mas sem tentar dormir. - “Arrependidos, hein? He, menina ingênua. Entre os pecadores, o único arrependimento é ter ido parar no inferno. Acredite, meu docinho, eu sei perfeitamente.” - Sussurrou, para ninguém.

Em outro lugar, um homem, de rosto severo e barba por fazer, estava sentado contra a parede, a sua volta dezenas de soldados dormiam, alguns apenas tentavam fazer isso, e uns poucos, como ele, deixavam o sono de lado e concentravam-se em outras atividades. Escrevia. Se era carta, ou mesmo um diário, nem ele sabia, não pensava em deixar outras pessoas lerem, mas sentia-se melhor assim, colocando as coisas em um papel:

Ax'aria. Neste lugar, os pecadores são perdoados. Ou, pelo menos, assim se acredita. É por essa razão que vim para cá. Mas, expiação dos pecados já não é mais meu destino. Tal coisa passa pelo arrependimento, e, que a Dama Altiva me perdoe, toda a dor e sofrimento deste lugar apenas serviu para que meu coração confirmasse ainda mais o meu pecado. Ax'aria não é, para mim, um lugar onde se possa encontrar perdão. Meu destino aqui é um só. Punição.

Quando terminou de escrever, leu para si. Cada sentença traduzia seus sentimentos de forma perfeita. Então, lembrou-se porque gostava de escrever, e porque viera para cá. Rasgou o papel, com raiva, depois contorceu-se até uma posição fetal e cobriu a face com as mãos, com vergonha de si mesmo.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Dorovan Boa Morte, Capitulo 1


Capitulo 1: Dorovan, O Paladino da Sem-Vergonhice!

O bardo, enquanto tocava uma animada marcha, fazia suas orelhas de gato acompanharem o ritmo da musica, um cliente, de pele escamada, soltou uma risada sibilante. Os outros, também com traços animais, em maior ou menor grau, riram em seguida, um pouco pela graça do bardo felino, mas muito mais pela risada do jovem com pele de serpente. A Taverna do Indomável seguia com mais uma noite normal.

Em uma das mesas, um enorme homem-urso, com algumas tatuagens tribais a mostra no torso nu, toma sua caneca de cerveja, que, mesmo para alguém daquele tamanho, parece maior do que deveria. Na mesma mesa, uma mulher, de roupas largas de mago e orelhas de raposa, apenas observa, um pouco assombrada, o homem-urso sorver toda a cerveja de uma vez só.

- “Então,” - Diz o homem, com sua voz poderosa - “você quer que eu te leve para Ax'aria, certo? E o que eu vou ganhar com isso mesmo?”

- “Cem peças de ouro agora, e outras quatrocentas quando voltar-mos para Kil'mer, entendeu?” - diz a mulher, sem se abalar

- “Está bem então, vou fazer isso, juro por minha terra, Far-bar!” - diz ele, abrindo um sorriso sem emoção.

Satisfeita, ela coloca sobre a mesa o pagamento adiantado, o homem-urso o pega sem hesitar.

- “Agora,” - diz o homem, - “vou dormir, pela manhã nós iremos partir, esteja preparada!” - e saiu, ainda houve tempo para ela responder: “Eu estarei!”, antes que ele subi-se as escadas. Na mesa vizinha, um homem com um chapéu emplumado ria sozinho.

No dia seguinte, o homem-urso já não estava mais na estalagem, levara o pagamento adiantado, lucrou sem esforço, sem problemas. Numa das mesas, a mulher estava de cabeça baixa, olhando para o próprio copo, já vazio, os olhos, um pouco inchados, denunciavam que estivera chorando. Em certo momento, um homem de chapéu emplumado sentou-se a mesa.

- “Ora, mas porque uma dama tão linda está tão triste? Não me diga que foi aquele bárbaro fajuto?”

Surpresa, ela apenas levantou a cabeça, sua boca aberta em uma interrogação muda, o homem continuou a falar.

- “Oras, eu bem que suspeitei, aquele sem vergonha nem mesmo decorou o nome certo, é Ferr-Bah, não Far-Bar! Acredite, eu nunca esqueceria o nome certo, não depois de ouvir ele tantas vezes enquanto aquela turba ensandecida me perseguia por quase um dia inteiro! Agora, se você quiser que um homem de verdade acompanhe você naquela viagem, acaba de achar a pessoa certa! É isso ai, proteção e, se você desejar, carinho por todo o caminho, e inteiramente grátis!”.

Com uma das orelhas caída, a mulher-raposa estava tentando entender o que acontececia.

“Quem diabos é você?” - Perguntou.

O homem, sem qualquer traço animal, com um cavanhaque bem feito e cabelos longos até o pescoço, e um rosto belo e bem definido, levantou-se e fez uma mesura.

- “Ora, ora, mas que indelicadeza extrema de minha parte, imagine só, deixe que eu me apresente, sou Dorovan, espadachim por opção, herói por acidente e mulherengo por vocação! O prazer, no momento, é todo meu, mas poderei dividi-lo com você quando desejar. E a belíssima donzela, como se chama?”

THUMP!, uma bota acerta os “adoráveis” (como costuma chama-los) de Dorovan.

- “Sophie, e eu não gosto de tarados.”

Dorovan se contorce e geme qualquer coisa sobre seus “adoráveis” antes de responder.

- “Bela donzela, eu não me lembro de ter dito que era um tarado, sou apenas um bom apreciador da vida. E...” - Ele senta-se e toma um pouco de ar antes de continuar - “... eu já estava indo naquela direção mesmo, então eu pensei que a companhia de tão adorável dama não seria má ideia, não é? E como você está mesmo procurando companhia, eu não achei que teria qualquer problema, certo?”.

- “E porque você está indo para lá?” - Diz Sophie depois de encara-lo por alguns segundos. Dorovan, já recuperado, faz um gesto arrogante com as mãos enquanto fala

- “E não é obvio? Em uma cidade de heróis caídos, que geralmente fazem o tipo deprimido e desanimado, as mulheres devem ficar muito solitárias! Como um herói, não posso deixar que isso aconteça! Irei para lá e farei todas as mulheres da cidade felizes! Esse é o dever de um herói! E que herói mais indicado para essa missão que eu? O mais viril dos heróis!”

THUMP!, um novo chute nos “adoráveis” de Dorovan.

- “Controle-se.” - Diz Sophie.

Dorovan caiu e contorceu-se no chão, o ar lhe faltando ao falar, de modo que a voz saia um pouco fina...

- “...Tá...bom... moça... mas... não bate mais ai não... senão... aquela história de 'o herói mais viril' vai... acabar sendo só historia mesmo...”

“Eu vou embora, e não preciso de um tarado me seguindo!” - Era Sophie, que se levantava da mesa, sua voz carregada de desprezo. Dorovan riu enquanto se levantava.

- “Bem,” - disse ele, recuperado - “isso quer dizer, já que você não tem qualquer senso de julgamento, que eu sou uma boa pessoa, não é mesmo?”

- “De que diabos você está falando, seu maluco? Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso diria a mesma coisa!” - Era Sophie, indignada. Dorovan sorriu, calmo, tirou algo de dentro do bolso da calça e o arremessou para Sophie.

- “Até onde eu sei, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso diria que aquele urso feio não era confiável, você, ao contrario, achou ele tão confiável que lhe deu o pagamento adiantado, isso que ele nem mesmo tinha começado o trabalho. Portanto, se você tem um julgamento assim tão distorcido, quer dizer que eu realmente sou um cara legal. E não sou tarado coisa nenhuma. E essa bolsa é sua, e ai dentro tem cem peças de ouro. E eu VOU acompanhar você nessa viagem, porque você, minha querida e bela dama, não sabe cuidar de si mesma, e eu não gosto de ver mulheres bonitas morrendo. Estamos entendidos?”

Sophie abriu a bolsa, olhou para dentro dela e então para Dorovan.

- “Mas, isso estava com o...” - Dorovan fez um gesto afirmativo com a cabeça e pousou a mão sobre um sabre que trazia preso a cintura, ela abriu a boca em uma exclamação muda.

- “Obrigada por pegar o dinheiro pra mim. Mas eu ainda acho que você é um tarado. Se achar que está ficando assanhado demais, acerto suas bolas, entendeu?” - Disse, hesitante, Sophie.

- “(Qual o seu problema com os meus adoráveis?). Ora pois, isso quer dizer que você aceitou que eu te acompanhe? Pois muito bem! Isso pede uma comemoração! Taberneiro! Traga cerveja, por favor!” - gritou ele, já se erguendo para ir buscar a cerveja.

- “O que?!? Nem pensar! Ainda é de manhã! Ninguém bebe a essa hora! E eu já estou atrasada o suficiente, vamos partir agora!” - Dizia ela, enquanto arrastava Dorovan para fora pela capa.

- “Espere um pouco! E quanto a reserva de viagem? Quer dizer que não vamos levar cerveja? Que tipo de viagem é essa em que não se leva cerveja? Ninguém de Laughton nunca lhe contou que é um sacrilégio sair numa viagem sem cerveja? Sério! Trevis, o Deus da Cerveja, exige isso de seus devotos! Eu já lhe contei que sou um clérigo dele? Verdade! E uma das minhas obrigações é tomar cerveja ao menos seis vezes ao dia! Você não iria privar um clérigo das obrigações da sua fé? Iria? Ei! Pelo menos vamos tomar um ultimo gole, hein? Hein?...” - E saíram da Taverna do Indomável, o taberneiro, que acompanhava a cena, finalmente entendeu porque dizem que o povo de Laughton não bate bem da cabeça...

quarta-feira, novembro 01, 2006

A Nova Geração

As coisas mudaram. É o que deve estar pensando cada profissional de mídia minimamente perceptivo. E eles estão certos. Essa mudança ocorreu graças a uma nova realidade mundial: a popularização da internet de alta velocidade.

Até alguns anos atrás, uma conexão veloz era privilégio de alguns poucos felizardos que tinham os recursos necessários para isso. Hoje em dia, conexões velozes estão por preços acessíveis a praticamente todas as classes sociais (claro, o que não quer dizer que todos tem dinheiro suficiente para comprar um computador...), e mais de 50 milhões de brasileiros tem acesso a internet de alta velocidade, seja em casa, na escola, no trabalho ou nas movimentadas LAN Houses.

Agora, faça uma pergunta a si mesmo: “Se eu posso escolher o que vou ver, e ainda ver de graça, porque vou deixar alguém me dizer o que vou ver, e ainda pagar por isso?”, a resposta, geralmente, é: “Não vou.”.

Sabendo disso, e também sabendo que era impossível impedir a disseminação dos seus produtos pela internet, as produtoras americanas e japonesas desistiram, permitindo que seus seriados e animes fossem legendados e postos para download gratuito (e apenas gratuito) na internet. E se surpreenderam com o que tem a ganhar com isso. Coisas como a exibição em uma boa emissora e em um bom horário se tornaram fatores menores para a popularização de uma série ou anime, e os próprios fãs cuidam da divulgação.

Hoje, e mesmo antes, a internet fervilha de fansubbers (gíria que identifica os grupos de fãs que traduzem e legendam seus filmes, seriados e animes favoritos e põem para download na internet), e o internauta tem a sua escolha milhares de títulos, desde o mais famoso seriado americano até o mais obscuro anime japonês. Não apenas vídeos, mas livros, revistas e histórias em quadrinhos podem ser encontrados. O termo “Geração Xerox” ficou famoso por caracterizar o modo como a juventude do inicio da década de 90 conseguia seus livros e quadrinhos favoritos. Hoje, pode-se dizer que existe uma nova geração: a Geração PDF.