sexta-feira, dezembro 29, 2006

Capitulo 5: A Queda, Parte II

Caminhavam pela sinuosa passagem subterrânea já há quase duas horas, durante todo esse tempo, quase ninguém tentava falar, com exceção de Dorovan, que insistia em querer saber o que a família Isenshard tinha contra os seus adoráveis. Quando não isso, tentava puxar conversa com alguma mulher, o que invariavelmente terminava com um tapa na cara de Dorovan ou com uma crise de risos por parte do alvo da cantada fajuta. Ou ambos. Depois disso, ele se afastava e ia reclamar com algum soldado, em especial Faern, que já era tratado como um velho amigo, sobre como as mulheres estavam se fazendo de difíceis hoje em dia.

- “Sério! Eu quero saber, eles fizeram algo contra a sua família? Algo que eu não saiba? Vamos, diga! É algum tio que levou um par de chifres por causa deles?” - disse Dorovan, depois de recomeçar uma conversa com Hoaram sobre o problema de seus adoráveis com a família Isenshard.

- “Já disse para calar a boca! Que o Indomável me devore, como foi que Sophie aguentou você tanto tempo?” - explodiu Hoaram.

- “Bem, na verdade, quando não estávamos correndo ou batendo em algum bandido, caçando ou comendo alguma coisa, eu estava um tanto quanto ocupado me recuperando dos seus chutes. Me pergunto porque ela estava precisando de escolta, com essa mira toda não há bandido ou animal selvagem que seja páreo.” - respondeu, apontando para os adoráveis e fazendo uma careta de dor.

- “He, isso é verdade...” - disse o tenente, e então correu a frente, virando na curva que se seguia. - “Chegamos. É a saída!” - falou, e alguns soldados já estavam com ele procurando por perigos do lado de fora. Após alguns segundos, em que os soldados restantes impediram que os civis saíssem, um dos soldados voltou e fez um sinal para os outros, e então todos começaram a sair.

O sol estava alto no céu, que ali estava limpo, ao contrario do cinzento manto de fumaça que se estendia sobre Ax'aria, que era visível no horizonte atrás deles e, para os mais atentos, era possível perceber a batalha que acontecia em suas muralhas. Os soldados foram rápidos em organizar os civis para seguirem viagem, e Hoaram não parava de dar ordens, indo de um lado para outro. Sophie, que se manteve calada todo o trajeto até aqui, exceto quando tinha que dispensar Dorovan, admirava seu irmão em ação. Seus olhos brilhavam e seu orgulho era visível. Para ela, aquilo era a mostra de que precisava, seu irmão ainda era o mesmo, nada havia mudado, e talvez essa louca ida para Ax'aria fosse apenas seu patriotismo falando mais alto.

Seguiram viagem por mais uma hora, em que Dorovan aproveitou para ganhar novos tapas e provocar ainda mais risadas, até que Hoaram parou a marcha e chamou uma dúzia de soldados.

- “Para onde vamos?” - Sophie perguntou.

- “Nós vamos em uma missão, você vai com o resto dos soldados até o rio Fend.” - respondeu Hoaram, sem olhar para ela.

- “Nem pensar. Eu vou com você. E ponto final.” - disse Sophie, batendo o pé. Hoaram virou-se e a encarou finalmente. Seu olhar estava diferente, Sophie notou, um pouco distante, triste. Então virou-se e seguiu em frente, dando de ombros. Sophie o seguiu. Dorovan seguiu Sophie (talvez porque não obtivera muito sucesso com as mulheres da caravana).

Então, eles marcharam pelas planícies, indo para o norte. Um pouco a frente dos soldados comuns, que marchavam em ordem militar, ia Hoaram, com Sophie e Dorovan acompanhando-o.

- “Para onde vamos?” - repetiu Sophie.

- “Pedir ajuda.” - respondeu Hoaram.

- “Olhe, amigo, sem querer dizer que você não sabe o que está fazendo mas... a civilização não fica para lá?” - perguntou Dorovan, apontando para o oeste.

- “Sim, por isso vamos mandar um sinal que consigam ver da Torre de Argos, senhor tarado.” - devolveu Hoaram, com desprezo.

- “Ei! Meu nome é Dorovan, e eu não sou tarado, oras! Sou apenas um bom apreciador da vida! E por sinal, tire o 'senhor' da frente, eu não sou nenhum velhinho, está bem?” - continuou o espadachim.

- “Como vamos mandar o sinal?” - perguntou Sophie, ignorando Dorovan.

- “Há uma torre.” - respondeu Hoaram - “De lá será possível fazer um sinal, quando a Torre de Argos ver o sinal, saberá que Ax'aria está em perigo.”

- “Mil perdões pela minha ignorância, mas devo dizer que venho um pouco de longe. Afinal, o que é essa tal Torre de Argos?” - interrompeu Dorovan. Hoaram se ocupou de responder.

- “A Torre de Argos” - começou - “é uma torre em Kil'mer, qualquer um que olhe por suas janelas pode ver a centenas de quilômetros de distancia, tudo isso graças aos poderes de um grupo conhecido como 'A Visão', são eles que vigiam o reino contra perigos, as vezes nós os chamamos apenas de vigias. São um tanto esquisitos, mas bons patriotas e bons homens.”

- “E mulheres.” - completou Sophie.

- “Ora, mulheres? Hmm... Acho que vou visitar essa tal torre algum dia. Me digam, por acaso eles não teriam nenhum item mágico que me permita, digamos, ver uma pessoa além destas supérfluas vestimentas que usamos, teriam?” - disse Dorovan.

Imediatamente, Sophie acertou um chute nos adoráveis de Dorovan, enquanto Hoaram lhe acertava um murro no rosto.

- “Controle-se, seu tarado!” - gritaram juntos. Dorovan foi ao chão. E não levantou mais. Hoaram e Sophie sorriram e se entreolharam por um segundo. Sophie ficou feliz, Hoaram desviou o olhar.

Faern o colocou nos ombros, enquanto falava - “Nocaute. O tenente e a dama são os novos noivos campeões.” - todos riram da piada, menos Hoaram que virou-se e recomeçou a andar. Então seguiram em frente, felizes, comentando e rindo das palhaçadas do estranho estrangeiro. E assim passou-se o tempo, Dorovan já estava acordado e recuperado, e falava com todos como se nada tivesse acontecido.

De repente, uma flecha passa a alguns centímetros da orelha de Hoaram, e um dos soldados cai. Dezenas de orcs levantam-se, abandonando suas camuflagens na grama alta. Era uma emboscada.